sábado, 25 de abril de 2009

A importância da implantação conjunta do ITIL com a ISO 20000

O ITIL v3 é uma referência para que as empresas implantem uma estratégia de serviços que envolva gestão da demanda, valores financeiros previstos para os serviços e a inclusão deste pipeline no portfolio. Também abrange um projeto do serviço que considera aspectos importantes como continuidade, capacidade, segurança e níveis de serviços. Na sequência é realizada uma transição do serviços para a produção, incluindo os processos de ativos/configurações de serviços, mudanças, release, testes e avaliação. Quando o serviço está pronto e devidamente aprovado/testado, é realizada uma passagem para a produção. Nesta etapa, processos e funções como service desk, incidentes, eventos e acesso são utilizados. Finalmente é apresentada uma referência para melhoria contínua, considerando algumas práticas recomendadas por Deming.

Estaria tudo certo, não fosse um detalhe. Sendo o ITIL uma referência, como garantir a implantação de forma efetiva e a sua sustentação ao longo do tempo?. O problema da abordagem apresentada é que o ITIL não garante que os processos sejam realmente implementados nos seus requisitos mínimos. Deveria existir em algum local uma determinação do tipo “deve existir um plano de capacidade !!” que pudesse ser avaliada quanto à sua eficácia. Neste aspecto, a ISO 20000 pode complementar o ITIL. O Cobit v4.1, com seus processos de Delivery & Support, atua com propósito semelhante, porém focando em "o que fazer" sob a ótica do ciclo de vida da Governança de TI e não em Gestão da Qualidade de Serviços de TI. Idem para o eSCM que determina "o que fazer" sob a visão do ciclo de vida de Outsourcing. O Cobit v4.1 e o eSCM estão em um nível acima. É preciso arrumar a casa. Para isto existe a ISO 20000 que é um padrão internacional de qualidade, projetado para gerenciamento de serviços de TI (ITSM). Certifica a empresa e tem como base o ITIL v2 (apesar de sua estrutura já contemplar o ITIL v3 nos seus requisitos mínimos e importantes para ITSM). No Brasil temos 05 empresas certificadas e no mundo são mais de 380, lideradas pela Japão (60), Reino Unido (58), India (44), China (37) e Coréia (34).

Bem, estava outro dia lendo uma revista mensal de TI. Notei em uma matéria algumas opiniões de CIOs quanto à Qualidade de Serviços de TI. Eis três afirmações passíveis de debate:

“Na parte de processos internos e de infra-estrutura, desde o ano passado estamos nos adequando às melhores práticas do ITIL. Como a meta é fazer a adoção completa do ITIL, estamos certificando nove funcionários e vamos contratar outros três já certificados. Essa adequação implicará a revisão de processos e da documentação”.

“Na área de governança e arquitetura de TI, nos baseamos nas melhores práticas do Itil e do Cobit, pois precisamos estar em conformidade com a Sarbanes-Oxley. Isso já garante a qualidade das informações e dos processos.”

“Em segurança, seguimos a norma ISO 27001. Já em relação à qualidade dos serviços de TI, temos um scorecard com indicadores como disponibilidades dos sistemas e custos”

Nenhuma crítica maior para as declarações acima, com exceção de que são visões bem restritas de gestão de serviços de TI. Nota-se que o foco maior está em “fazer acontecer” ou “fazer aparecer”, sem um cuidado com o melhor método ou com uma análise. Vejamos um exemplo deste raciocínio. Um CIO ao afirmar que já possui processos ITIL implantados não garante que a implantação está seguindo os requisitos mínimos de qualidade em ITSM. A ISO 20000 é um complemento do ITIL, pois atesta que as melhores práticas em gestão de serviços de TI estão efetivamente implantadas. Garante também que os processos mínimos estão sendo seguidos. O fato de acionar uma entidade externa (ex. BV, DNV ou BSI) para auditoria dos processos de forma contínua e periódica, bem como utilização de avaliações internas (auditoria interna), garante que os processos e a qualidade de serviços de TI estão sendo seguidos. Para garantir a qualidade das avaliações, é importante que sejam conduzidas por pessoas com excelente nível de conhecimento e experiência em ITIL e em Sistemas de Qualidade.

Outro aspecto importante é que a ISO 20000 garante para o ITIL alguns complementos fundamentais, como por exemplo a responsabilidade da alta direção sobre o sistema de qualidade de serviços de TI, competência, treinamento e requisitos de documentação para a execução dos processos. Tudo isto é auditado quanto à sua eficácia. Outro aspecto fundamental é a inclusão dos processos do ciclo PDCA, incluindo auditoria, registros, evidências de não- conformidades e oportunidades de melhorias com suas respectivas ações preventivas e corretivas. Processos importantes de relacionamento com o cliente (incluindo gestão de reclamações) e de gestão de fornecedores são auditados e escalados. Exige-se também um processo de melhoria de serviços com atividades bem definidas, incluindo determinações claras de entradas e saídas.

Finalmente, é recomendável que as empresas e provedores de TI considerem seriamente esta implantação conjunta. Os benefícios serão maiores do que a implantação do ITIL de forma isolada para a Gestão da Qualidade em Serviços de TI. Como dizia Gary Hamel, famoso guru e estrategista: “

“Boa parte do que está mudando simplesmente não é visto de onde você está sentado. Sua visão está obstruída. É preciso levantar-se da cadeira e buscar novos conhecimentos.”
Gary Hamel

Este alinhamento entre o ITIL e a ISO 20000 tem tudo a ver com esta busca de novos paradigmas para a gestão de serviços de TI. Eis mais um bom tema para debate com os colegas do blog.

2 comentários:

  1. Prezados,

    Tenho visto muita gente dizendo que pratica o ITIL, porém poucos estão preparados para o ISO 20000 conforme podemos ver na relação de empresas certificadas. Garantir o cumprimento do processo e buscar sua melhoria não é algo fácil, exige muito suor e na loucura do dia-a-dia poucos conseguem seguir de fato.

    Wallace Oliveira
    www.supravizio.com

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  2. Pessoal,

    Desmistificando, o ITIL propõe processos para gerenciamento dos serviços de TI tanto quanto a ISO 20.000 entretanto a norma insere o conceito de "melhoria contínua" através do ciclo PDCA e gestão de documentos da mesma maneira que outras normas para gestão de serviços, a exemplo ISO 9002.

    Basta ler a norma sem mitos!

    Silvio Jara
    www.fj.com.br

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