quarta-feira, 6 de maio de 2009

Aspectos Financeiros do Processo de Inovação em TI

Na revista HSM Management de fevereiro/2009 saiu uma matéria de Silvio Meira sobre “Tudo que você queria saber sobre inovação e não tinha a quem perguntar”. Trata-se de uma visão da inovação por um inovador. Excelente reportagem. O que me chamou atenção é quando ele cita que no Brasil a visão de inovação é tão primária que, se você tiver uma padaria e comprar um novo forno, o banco de desenvolvimento que emprestou o dinheiro vai anunciar: “Estou financiando inovação”. Na realidade o que foi feito foi uma simples substituição para aumentar a eficiência. Segundo Meira, não se cria empresa inovadora de tecnologia com tecnologia, mas com dinheiro. A principal infraestrutura chama-se “capacidade inovadora do capital empreendedor”, inexistente no Brasil. Este capital faz mais do que colocar dinheiro. Ele detecta a oportunidade para a inovação e a põe no mercado. Ao ler os ensinamentos do mestre Silvio Meira, resolvi investigar um pouco sobre o assunto e compartilhar alguns conhecimentos complementares com os leitores do blog. Um briefing da matéria do Meira está disponível em: http://www.hsmmanagement.com.br/.

Bem, o economista Joseph Schumpeter definiu a inovação na década de 1930 como a obtenção de diferenciais competitivos pela modificação de produtos ou meios de produção. Ele classificou a inovação em três estágios: invenção, inovação e difusão. Enquanto a invenção é entendida como uma idéia potencialmente aberta para a exploração comercial, mas não necessariamente realizada, na idéia de inovação está implícita uma ênfase na exploração comercial. Por fim, a difusão está relacionada com a idéia de como novos produtos e processos se propagam pelos mercados potenciais. Outros autores modernos usam a mesma seqüência de fases com diferentes nomenclaturas e detalhes dos estágios. Bem, A inovação é um processo sistêmico, que envolve inúmeros atores que atuam segundo lógicas e prioridades distintas, e que só se realiza em um ambiente estimulante e catalisador de competências e iniciativas de cada um. De acordo com Tom Peters: “... a fonte no. 1 de inovação é feita de pessoas irritadas – pessoas que não conseguem lidar com ineficiências e tolices que vêem ao seu redor.”

“Pensar fora do normal: o alicerce do alto valor agregado”
Tom Peters, Reimagine

Gary Hamel, guru de estratégia e inovação, define bem o desafio da inovação para os profissionais que ele denomina de “ativistas”. Segundo ele, os ativistas são patriotas voltados para a proteção da empresa contra a mediocridade, a estreiteza dos interesses pessoais e a adoração do passado. Sua meta é instigar movimentos dentro da empresa e e deflagrar a revolução fora dela.

Veja diferente, seja diferente !!
Gary Hamel, Liderando a Revolução

Bem, estes são os conceitos mais comuns, mas, como podemos medir o retorno financeiro da inovação em TI. Em qual momento ocorre o ponto de equilíbrio em relação ao que foi gasto desde a concepção da idéia até o lançamento estabilização do produto ou serviço no mercado ?.

“Em uma manhã ensolarada na Califórnia, no final de agosto de 1998, Larry e Sergey, criadores do Google, sentaram-se na varanda de uma casa em Palo Alto, ansiosos pela chegada de Andy Bechtolsheim, investidor lendário de start-ups bem-sucedidas. Larry Page e Sergey Brin tinham uma grande idéia: eles haviam inventado uma maneira mais fácil de encontrar informação relevante em menos tempo na internet, o Google. Satisfeito com a demonstração, Bechtolsheim não perdeu tempo para fazer a pergunta mais importante. “Como vocês pretendem fazer dinheiro com isso? “. Ele disse. “Eu nunca me envolvo com idéias sem nenhum mérito econômico.”

Livro Google, a História

Para quase toda empresa, o maior desafio não é a falta de idéias, mas saber administrar bem a inovação, de forma que ela proporcione o retorno pretendido para o investimento feito pela empresa em termos de dinheiro, tempo e pessoal. Em TI não é diferente. Retorno significa, em termos claros, dinheiro. Se você não conseguir descrever como sua idéia gerará riqueza, você não irá longe como inovador. Antecipe-se a questões comerciais básicas: Qual é a proposição de valor para o cliente? Como esta idéia criará vantagem competitiva? Sua idéia de negócio talvez ainda não esteja completa, mas é preciso demonstrar que você está atendo a estas questões.

No tradicional funil da inovação (Clark e Wheelwright, 1993), a análise financeira da proposta de inovação é realizada na etapa de viabilidade do projeto (business plan), antes da execução do projeto. Técnicas de análise financeira a exemplo de NPV, IRR, IL, Payback e Análise de Riscos são utilizadas nesta etapa para avaliação do ROI da Inovação. A Curva de Caixa da Inovação, encontrada no livro “Payback, a Recompensa Financeira da Inovação” da editora Campus e do Boston Consulting Group, tenta fornecer algumas contribuições de uma avaliação de todo o processo de inovação, conforme figura acima. Na curva, os custos iniciais durante a concepção e captura das idéias são baixos se comparados com a execução do projeto e da comercialização. O desafio é manter os investimentos em níveis aceitáveis na fase do projeto. O retorno virá com os ganhos após o lançamento do produto no mercado, que deve ocorrer no menor tempo possível (time-to-market).

Além do livro citado neste artigo, recomendo a leitura do tradicional “Gestão da Inovação” de Tidd et al. e do excelente “Gestão de Idéias para Inovação Contínua” de Barbieri et al. Este último explora os conceitos de Demand Pull (inovação a partir das necessidade dos clientes) e Science Push (inovação a partir de P&D ou idéias). A inovação no conceito de Demand Pull também é explorada de forma brilhante no livro “Toyota – A Fórmula da Inovação”. Bem, são temas bem interessantes que podem ser estudados e aplicados em tecnologia da informação. Voltando ao texto de Silvio Meira na HSM Management. Segundo ele: “O que move a inovação é a conexão, inclusive a do capital”. Eis uma lição valiosa. O caminho é possível. Vamos em frente !!!

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